top of page
  • Ícone do Facebook Preto
  • Ícone do Twitter Preto
  • Ícone do Instagram Preto
  • Ícone do Youtube Preto

Zenão de Cítio: Empreendedor e Filósofo

  • Foto do escritor: Cesar Santaella
    Cesar Santaella
  • 16 de nov. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 17 de nov. de 2024


A história do estoicismo remonta a um momento de perda e transformação, revelando como a adversidade pode desencadear um novo caminho para aqueles que sabem acolhê-la com sabedoria. Galeno, o grande médico grego do Império Romano, exemplificou esse comportamento ao lidar com a perda total de suas obras. Após um incêndio que destruiu todos os seus escritos e remédios, ele manteve a serenidade e afirmou: “O fato de não ter sentido dor mostra, em primeiro lugar, a nobreza de meu comportamento e minha grandeza de alma”. Sua resposta, digna ante a adversidade, inspirou a percepção de que, mesmo diante de perdas irreparáveis, a força interior e a resiliência podem prevalecer.

Assim como Galeno, o fundador do estoicismo, Zenão de Cítio, também experimentou uma perda devastadora que redirecionou sua vida. Originário da Fenícia, Zenão viajava com um navio carregado de mercadorias quando uma tempestade o fez naufragar, e perder todos os seus bens. Essa tragédia pessoal culminou com sua chegada à Atenas, onde, por obra do destino, ele encontrou uma nova vocação ao tomar contato com os ensinamentos de Sócrates e, posteriormente, com as ideias de Crates, filósofos atenienses, Zenão teve sua vida transformada. Essa experiência inesperada fez com que ele abraçasse a filosofia e, segundo o biógrafo Diógenes Laércio, Zenão teria dito: “Agora que sofri um naufrágio, estou em uma boa jornada”. Ele também teria agradecido à Fortuna por tê-lo conduzido à filosofia, reconhecendo o valor das adversidades como fontes de crescimento e autoconhecimento.

Zenão então se estabeleceu em Atenas, onde fundou sua escola filosófica, o estoicismo, em um local conhecido como o Stoa Poikile, ou "Pórtico Pintado", situado na Antiga Ágora. Este local, uma varanda pública adornada com murais, emprestou seu nome à nova corrente filosófica, cuja influência se estenderia muito além da cidade. Curiosamente, seus primeiros seguidores eram conhecidos como "zenonianos", em referência ao fundador, mas o termo evoluiu, e a escola passou a ser chamada de estoica.

A filosofia de Zenão oferecia uma visão de vida baseada na paz de espírito que decorre de viver com virtude, em harmonia com a razão e a natureza. Em suas palavras, “felicidade é um bom fluxo de vida”, o que significa que a verdadeira satisfação vem de aceitar as circunstâncias e agir de forma virtuosa, independente do que esteja fora de nosso controle.

Após a morte de Zenão, os atenienses honraram seu legado com uma estátua de bronze e um decreto em sua homenagem. Esse documento destacava seu caráter íntegro e o valor de seu ensino, que havia impactado gerações de jovens em busca de uma vida melhor. Dizia o decreto:

“Considerando que Zenão de Cítio, filho de Mnaseas, por muitos anos se dedicou à filosofia na cidade e continuou a ser um homem valioso em todos os outros aspectos, exortando à virtude e à temperança os jovens que o procuram para serem ensinados, orientando-os para o que é melhor, dando a todos em sua própria conduta um padrão de imitação em perfeita consistência com seu ensinamento, pareceu bem ao povo – e pode resultar bem – elogiar Zenão de Cítio, o filho de Mnaseas, e coroá-lo com uma coroa de ouro de acordo com a lei, por sua bondade e temperança, e construir para ele uma tumba no Ceramicus a custo público…”

Infelizmente, nenhuma das obras de Zenão sobreviveu, e nosso conhecimento sobre seus ensinamentos nos vem por meio de relatos de autores posteriores, como Diógenes Laércio. Ele escreveu uma obra chamada República, que, embora perdida, foi descrita como um manifesto sobre uma sociedade ideal fundamentada na igualdade e na virtude compartilhada. Plutarco, ao mencionar essa obra, relatou que Zenão propunha uma comunidade onde todos viviam sob uma mesma lei e uma ordem comum, tratando uns aos outros como iguais e cooperando em benefício mútuo, como um “rebanho pastando junto com direitos iguais em um pasto comum”.

A trajetória de Zenão nos mostra como as adversidades podem nos conduzir a realizações que, de outra forma, talvez não teríamos considerado. Sua vida e obra são um exemplo de como a resiliência e a busca pela virtude, mesmo diante de infortúnios, podem transformar não apenas o indivíduo, mas toda uma sociedade. É essa essência que fez do estoicismo uma filosofia atemporal, aplicável tanto na vida pessoal quanto nos negócios, onde a capacidade de aceitar perdas, aprender com elas e persistir com serenidade é uma habilidade fundamental para o equilíbrio e o sucesso.


Sugestão de Leitura: Para compreender mais profundamente os princípios estoicos e o impacto de Zenão, a obra Lives and Opinions of Eminent Philosophers, de Diógenes Laércio, é uma referência essencial. Essa obra, embora não traga os escritos originais de Zenão, Cleantes ou Crisipo, oferece um panorama dos primeiros fundamentos estoicos que moldaram o desenvolvimento dessa filosofia até os dias atuais.

Comments


bottom of page