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DeepSeek e a Bolha da Inteligência Artificial

  • Foto do escritor: contatocesarsantae
    contatocesarsantae
  • 31 de jan.
  • 4 min de leitura
DeepSeek e a Bolha da Inteligência Artificial
DeepSeek R1 e a bolha da Inteligência Artificial

A história dos mercados financeiros é marcada por ciclos de inovação, especulação e, inevitáveis retrações, provocando dolorosos ajustes. Esses ciclos, que muitas vezes provocam o surgimento de bolhas financeiras, não são um fenômeno recente. Um dos primeiros exemplos registrados ocorreu na Holanda do século XVII, com a "bolha das tulipas". Na época, os bulbos de tulipa eram considerados um símbolo de status e riqueza, e seu preço subiu continuamente desde o início do século até atingir níveis absurdos. Em 1637, o mercado de tulipas entrou em colapso, deixando muitos investidores arruinados. Esse episódio serve como um lembrete atemporal de como a euforia coletiva pode levar a consequências devastadoras.


Um exemplo mais recente, e igualmente emblemático, ocorreu no século XX, e pode ser exemplificado com a ascensão e queda no valor das ações da RCA "Radio Corporation of America", empresa que estava na vanguarda das tecnologias de comunicação nos anos 1920's. Como maior fabricante de rádios e operadora da NBC, "National Broadcasting Company", a empresa era a líder do setor, acumulando patentes valiosas e contando com alguns dos engenheiros mais brilhantes da época.


Em 1921, as ações da RCA eram negociadas a apenas US$ 1,50 (valor ajustado) e em 1929, atingiram um pico impressionante de US$ 549, um retorno de 352 vezes. Durante seu auge, a relação preço/lucro (P/L) da empresa chegou a 72 vezes, um indicativo claro de especulação excessiva. Quando a bolha estourou no final de 1929, as ações despencaram e, em 1932, estavam sendo negociadas a apenas US$ 15. Apesar de ainda representarem um retorno de 10 vezes em relação a 1921, a maioria dos investidores havia comprado a preços muito mais altos, sofrendo enormes perdas. Além disso, o uso generalizado de operações alavancadas amplificou o colapso, destruindo fortunas quase da noite para o dia.


O Padrão se repete: a bolha "pontocom"


Na virada do milênio, um fenômeno semelhante ocorreu com a "bolha das pontocom". Empresas como Cisco e Intel atingiram valorizações exorbitantes, apenas para desmoronar quando a realidade econômica se impôs. Em muitos aspectos, a RCA foi a Cisco dos anos 1920, ou talvez a Nvidia de sua época.


Atualmente, vivemos outra revolução tecnológica impulsionada pela inteligência Artificial (IA). Empresas como a Nvidia atingiram valores de mercado sem precedentes, levantando a questão: por quanto tempo isso pode durar? Alguns especialistas apontam que o novo modelo de IA da China, o DeepSeek R1, pode ser o gatilho que estourou essa bolha.


Ainda não vimos um colapso definitivo, mas o mercado já demonstrou sinais de vulnerabilidade. Em um dia, as ações da Nvidia caíram 17%, após notícias de avanços tecnológicos chineses, apenas para se recuperar 9% em seguida. Esse comportamento reflete a fragilidade do mercado, onde qualquer notícia negativa pode gerar volatilidade extrema. O fato é que todas as bolhas estouram.


O que pode desencadear o colapso desta vez?


Um evento financeiro, como uma crise em uma grande empresa, uma corrida bancária, um choque geopolítico ou até mesmo uma inovação disruptiva de um concorrente podem ser o estopim do colapso. A queda de 17% em um único dia na Nvidia é um lembrete de que o mercado pode se virar contra os investidores muito rapidamente.


Investimentos Concentrados e Riscos Elevados


O boom da IA não só transformou indústrias, mas também concentrou os investimentos nos mercados em algumas poucas empresas. Mesmo antes da ascensão da IA, o mercado de ações já era dominado por gigantes da tecnologia, como nas chamadas "Sete Magníficas" -Apple, Microsoft, Alphabet (Google), Amazon, Nvidia, Meta (Facebook) e Tesla - que representam cerca de um terço do valor investido em todas as empresas americanas, agrupadas no índice S&P 500. Isso significa que qualquer investidor que possui um fundo indexado ao S&P 500 tem mais exposição a essas sete empresas do que às 400 menores empresas do índice combinadas.


Esse nível de concentração é um sinal clássico de bolhas financeiras. Apesar de serem impulsionadas por inovações reais, essas manias acabam saindo do controle. O padrão se repete há séculos: ferrovias no século XIX, internet no final dos anos 1990, criptomoedas nos últimos anos - e agora, IA. A grande questão é quando a bolha estourará. Os sinais indicam que estamos cada vez mais próximos desse ponto de inflexão.


Protegendo seu Patrimônio


Se você investe em um fundo de índice do mercado americano, sua carteira está fortemente exposta ao setor de tecnologia. Embora essas empresas tenham proporcionado retornos excepcionais, é essencial reconhecer que esse setor é vulnerável a uma correção severa. Por isso, aos níveis atuais, este pode ser o momento ideal para diversificar em ativos que foram negligenciados até aqui.


Ativos tangíveis como ouro, prata, ações de mineração, petróleo, gás natural e imóveis podem atuar como uma proteção contra a volatilidade do setor de tecnologia. Apesar do entusiasmo com a IA, estamos entrando em um período econômico instável. Os Estados Unidos e diversas outras nações estão enfrentando níveis alarmantes de endividamento. Quando a relação dívida/PIB ultrapassa 120%, a história recente mostra como ocorreu em vários países da Europa (Portugal, Espanha, Itália e Grécia) uma crise da dívida pública. Nos EUA, essa relação dívida/PIB já ultrapassou os 120%, e embora o país conte com a posição privilegiada de emitir sem lastro a moeda de reserva internacional mais utilizada em todo o mundo, a falta de medidas de ajuste do déficit nas contas públicas americanas tende a enfraquecer a posição do dolar como moeda de reserva de valor e pode levar a crises financeiras ou longos períodos de crescimento econômico global lento.


Em resumo


A história é clara: revoluções tecnológicas frequentemente levam a bolhas financeiras, e bolhas sempre terminam em correções severas. Desde a bolha das tulipas no século XVII até a bolha das pontocom no final do século XX o padrão se repete. O "boom" da IA criou oportunidades imensas, mas também concentrou riscos em poucas empresas, tornando o mercado vulnerável a um colapso. A repercussão do surgimento da DeepSeek pode ser o melhor sinal de que estamos vivendo em uma Bolha da Inteligência Artificial.


A melhor forma de se proteger? Diversificar e manter disciplina. Em vez de se deixar levar pelo entusiasmo do momento, um investidor prudente reconhece os sinais de perigo e se antecipa às tempestades inevitáveis. Não se trata de fugir da tecnologia, mas de construir um portfólio resiliente. Afinal, no mundo das finanças, aqueles que aprendem com a história estão sempre um passo à frente dos movimentos dos mercados.

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