A Crise da Dívida Pública dos Estados Unidos e o "Grande Reset"
- Cesar Santaella
- 10 de abr.
- 3 min de leitura

No cenário global atual, observamos uma guinada política e ideológica significativa, com um movimento crescente de inclinação à direita e uma reação contra o chamado "wokeismo". Esse fenômeno não é isolado; faz parte de um plano maior, uma espécie de antítese, onde o caos é instigado para, posteriormente, trazer uma nova ordem. A estratégia parece ser permitir que a situação se agrave ao máximo, até que a população, cansada, aceite as soluções propostas por aqueles que detêm o poder.
Um exemplo emblemático desse movimento é o chamado "Grande Reset", uma proposta inicialmente apresentada pelo Fórum Econômico Mundial, mas que foi rejeitada pela população global e pelos conservadores. No entanto, a mesma ideia ressurgiu sob uma nova roupagem, agora defendida por figuras como Donald Trump. O Grande Reset prevê, entre outras coisas, a substituição do dólar como moeda principal e a transição do dinheiro físico para o digital.
Curiosamente, Trump emitiu uma ordem executiva proibindo o Banco Central de criar uma CBDC ("Central Bank Digital Currency"), uma moeda digital centralizada que vai contra o conceito descentralizado do Bitcoin. Essa medida agradou os entusiastas do Bitcoin, mas há indícios de que o governo americano está, na verdade, acumulando Bitcoin, preparando-se para uma possível valorização exponencial da criptomoeda. A ideia seria usar essa valorização para pagar a dívida pública americana, uma manobra financeira audaciosa que poderia multiplicar o valor do Bitcoin em até 100 vezes.
Esse plano não é novo. Em 2019, Trump reuniu uma equipe econômica para se preparar para uma crise iminente. O plano, chamado "Going Direct", envolvia a impressão de trilhões de dólares, o achatamento da demanda por meio de "lockdowns" e o uso desse dinheiro para investir em ativos que estariam desvalorizados durante a crise, mas que se recuperariam rapidamente. Em 2020, essa estratégia foi posta em prática, com investimentos maciços em Bitcoin e outras ações, resultando em ganhos astronômicos para os grandes fundos de investimento.
Agora, parece que o mesmo plano está sendo reativado. Grandes investidores, como Warren Buffett, estão vendendo ações e acumulando dinheiro em caixa, preparando-se para comprar ativos a preços baixos durante a próxima crise. Esse comportamento é típico dos "tubarões" do mercado financeiro, que compram na baixa e vendem na alta, enquanto os investidores iniciantes tendem a fazer o oposto, comprando na alta e vendendo na baixa, sofrendo grandes perdas.
No caso do Bitcoin, a estratégia parece ser a de acumular a criptomoeda e, em vez de adotar uma CBDC centralizada, promover o uso de "stablecoins", moedas digitais lastreadas em dólar, como o Tether (USDT) ou a moeda digital do PayPal (PYUSD). Essa abordagem permitiria a implementação de sistemas de crédito de carbono e crédito social, além de facilitar o rastreamento e o bloqueio de transações, mantendo o controle nas mãos de Wall Street e do Vale do Silício, em vez do Banco Central.
Enquanto isso, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) buscam reduzir sua dependência do dólar, promovendo o uso de outras moedas em transações internacionais. No entanto, Trump já ameaçou impor tarifas de 100% sobre países que adotarem moedas alternativas ao dólar, o que pode desencadear uma crise econômica global. Essa estratégia de confronto parece ter como objetivo acentuar a tendência de troca de dólares por ouro ou outras moedas na composição das reservas internacionais dos países, e com isso fazer os dólares seguirem de volta para os Estados Unidos, permitindo que o país recupere o controle de sua dívida pública e, eventualmente, pague-a com a valorização de ativos como o Bitcoin.
Os efeitos dessa estratégia têm sido potencializados com as recentes medidas do Federal Reserve, que desde fevereiro de 2025, voltou a enxugar a liquidez dos mercados através do “reverse repo” (para saber mais sobre o “reverse repo”). Essa operação, que envolve a venda de títulos e a retirada de dólares das reservas bancárias, foi acionada anteriormente em fevereiro de 2020, pouco antes da pandemia, e resultou em uma retirada excessiva de liquidez dos mercados financeiros globais, contribuindo para o aprofundamento da crise econômica da época. De forma similar, neste início de 2025, os mercados financeiros globais já começam a mostrar sinais negativos dessa redução de liquidez, como por exemplo com as quedas acentuadas nas principais bolsas de valores norte-americanas.
Em resumo, estamos diante de um cenário complexo, onde a dívida pública, as moedas digitais e as estratégias de grandes investidores se entrelaçam, criando um ambiente de incerteza e oportunidades para aqueles que conseguem antecipar os movimentos do mercado. A próxima crise pode estar mais próxima do que imaginamos, e seus impactos serão sentidos em escala global.
Comments